08/05/2016

Considerando o Ecumenismo com Maurice Zundel

Na noite de 3 de maio de 2016, decorreu no Centro de Cultura Católica do Porto uma conferência de Alexandre Freire Duarte, subordinada ao tema Considerando o ecumenismo com Maurice Zundel, numa organização do referido Centro e da Comissão Ecuménica Diocesana. O conferencista procurou formular as linhas fundamentais do pensamento ecuménico deste teólogo e místico suíço contemporâneo, primeiramente apresentado no seu itinerário biográfico, aberto a distintas influências e contactos e por vezes inquietante para a própria hierarquia eclesial. Houve, contudo, quem fosse mais sensível às suas intuições, como o papa Paulo VI, que o definiu como «um génio fulgurante da poesia e da mística».A segunda parte da conferência, aquela que diretamente tratou o tema, versou sobre o pensamento ecuménico de Zundel. Alexandre Duarte preveniu os presentes para o facto de aquele místico nada ter escrito de sistemático sobre o ecumenismo, mesmo se a temática foi frequentemente aflorada nos seus escritos, nomeadamente nas suas homilias, permitindo assim uma sistematização que o conferencista assumiu como própria, na fidelidade ao pensamento de Zundel. Sistematizou tal pensamento em torno de cinco eixos fundamentais: o ecumenismo trinitário, segundo o qual a vida ecuménica traduz e fundamenta a «unidade visível total» entre as diferentes confissões cristãs; o ecumenismo da pessoa de Jesus Cristo, «a incarnação do ecumenismo trinitário», enquanto a incarnação o vincula à humanidade de uma forma totalmente despojada e esvaziada de si mesmo; o ecumenismo humano, decorrente da nossa passagem do “Primeiro” para o “Segundo Adão”, deslocando-nos de nós mesmos e dando-nos aos demais; o ecumenismo eclesial, que acontece numa Igreja enformada pela pobreza e pelo despojamento de si na pessoa do seu Senhor; o ecumenismo concreto feito de conteúdo amoroso e de vivência do basilar.
A concluir a sua intervenção, Alexandre Duarte apontou, em jeito de síntese, os elementos de um ecumenismo genuíno e fecundo na perspetiva de Maurice Zundel, que aqui deixamos elencados: relativizar o secundário para se viver o essencial, o nuclear, o verdadeiramente importante; testemunhar, em comum e pelo amor, a presença da vida na vida de todos nós; respirar e amar em comum a um Jesus que, na sua humanidade, remete para a fonte ecuménica divina, a Trindade, infinita circulação de doação e acolhimento amoroso; viver de modo que a Igreja seja vista como o coração ecuménico de um Jesus a dar-se ao mundo inteiro; viver empaticamente com todos aqueles que comungam do amor a Jesus Cristo, o que supõe definirem-se não pela diferença, mas pelo comum; viver numa desapropriação que leva aos outros uma fé ecuménica, que é vivida na presença de um amor infinito que é, e só ele é, a verdade; reconhecer o testemunho basilar do cristianismo, o qual não radica numa doutrina isolada, mas numa vida que, na vida ecuménica, se dá gratuitamente; tentar superar divisões, não pela afirmação da posse da verdade, mas pelo viver diariamente a verdade ecuménica; não exigir que as distintas confissões cristãs reneguem aos seus modos concretos de serem fiéis a Cristo (todas elas estão a convergir numa pessoa ecuménica, um Jesus que nos insere a todos na vida trinitária); nunca violar uma consciência, mas servi-la no silêncio do amor ecuménico do lava-pés (edificar uma unidade pela bondade que faz e dá crédito aos demais, ao reconhecer que neles está o centro vivo do ecumenismo).
Após algum diálogo esclarecedor entre o conferencista e os presentes, tomou a palavra o P. Domingos Oliveira, responsável pela Comissão Ecuménica Diocesana, que, agradecendo ao conferencista, aos presentes e a quantos tornaram possível a iniciativa e fazendo ressoar algumas das reflexões da conferência, encerrou a sessão.